sábado, 12 de fevereiro de 2011

"E partiu de novo, para poder dar de caras com «Clawdia», o que tinha um encanto incomparavelmente mais perigoso do que caminhar à frente ou atrás dela. Quando, pela primeira vez, pôs esta táctica em acção, ela mediu-o à distância com o olhar, de alto a baixo, sem qualquer pudor ou contemplação, desviando, contudo, a cara com indiferença quando se aproximaram, para prosseguir de seguida o seu caminho. Um encontro, portanto, sem nada de particularmente assinalável. Mas quando o mesmo se passou pela segunda vez, ela não desviou os olhos dele, e isso não apenas à distância: cravou nele o olhar o tempo inteiro, durante todo o encontro, observando-o com insistência e até alguma severidade, e continuou a olhar para trás mesmo depois de se terem cruzado, o que arrepiou o pobre Hans Castorp até à medula. Não podemos, no entanto, sentir pena dele, se foi ele mesmo quem tudo isto desejou e decidiu iniciar. (…). Nunca antes tivera o rosto da senhora Chauchat tão perto do seu, nunca antes o pudera examinar com tanta clareza e pormenor (…). Eram feições invulgares e marcantes, cheias de carácter (já que só o insólito nos parece sinónimo de personalidade), de um exotismo nórdico, enigmático, apelando à decifração, na medida em que as linhas e proporções não eram de fácil determinação.”             (Thomas Mann)

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