quinta-feira, 30 de junho de 2011


Os Navios existem, e existe o teu rosto
encostado ao rosto os navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
Partem no vento, regressam nos rios.

Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.


Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram-se nas esquinas.
Amo-te… E entram pela janela
as primeiras luzes das colinas.

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.
              (As palavras interditas, Eugénio de Andrade)

terça-feira, 21 de junho de 2011

reflexões de quem não tem sono e nada produtivo em vista... (4)

Todos os dias somos bombardeados - pela televisão, jogos, brinquedos, revistas, rádio, publicidade exposta na rua, metro e afins sobre os padrões pelo qual a nossa vida se deve reger, como devemos ser, aparecer e estar.
Desde crianças que os media nos ditam como devemos viver e o que é o sucesso social. Perante esta realidade determinados grupos e indivíduos conseguem a serenidade, felicidade e sucesso pessoal desafiando a sociedade vigente, contrariando os estereótipos actuais conseguem estar integrados sem se imiscuir na sociedade. Contudo esta harmonia não é contínua ou permanente, mas um equilíbrio frágil que é frequentemente recalibrado. É uma missão complexa romper as amarras e construir o nosso pequeno mundo, tem os seus riscos e a rede de suporte é frágil tornando a queda uma probabilidade.
O equilíbrio acima referido é um tanto ou quanto espinhoso, é um trabalho árduo a construção de um lugar onde os moldes do êxito repetidos desde que existimos como cidadãos podem ser contornados. Este espaço de auto-reconhecimento por vezes demora e a inquietação, isolamento e angústia é diagnosticada e catalogada com o nome de uma doença qualquer de um grau qualquer presente num protocolo de diagnósticos psicológicos/psiquiátricos. E começa uma listagem de medicação. Com um rótulo tudo está explicado, entendido e a sociedade pode continuar. A infelicidade é um preço a pagar, sem stresse porque há sempre alguém que lucra com a desgraça alheia. E por vezes, com a adversidade um ou outro génio é revelado e adorado depois de sepultado.
(d Trintona)

quarta-feira, 8 de junho de 2011


Que saudades... quando pirralha idealizava ser e viver como o Huckleberry Finn com o seu código de honra/amizade muito particular

domingo, 5 de junho de 2011

Um papelinho, vá lá só um, faz-me esse favorzinho...

Bem, já exerci a minha função como cidadã portuguesa, só e apenas falta o próximo governo e restantes entidades políticas que governam o país, ou o representam, visto Portugal ser governado pelo bloco central europeu - perdoem-me o equívoco: dirigido pela chanceler alemã Angela Merkel; cumpram as suas obrigações para comigo como jovem portuguesa inserida no  actual contexto social e económico da grande maioria dos jovens portugueses e europeus. Já estou há uns aninhos à espera, contudo cultivo a paciência como uma virtude e continuo cumprindo as minhas obrigações – voto, tenho os impostos em dia, desconto para a segurança social (de forma a cobrir a reforma e custos de saúde dos meus avós e pais) não tenho dívidas, gasto um pouco menos do que posso e até tenho um porquinho (por enquanto miniatura) para a minha reforma.
(d Trintona)

sábado, 4 de junho de 2011


E sequem-se-me os dedos a cabeça
estoire e não fique de tudo uma palavra
se a maldição for tanta que eu te esqueça

e não reste sequer o chão e não de quantas ruas e
não já reste a cidade

e seja a memória deste homem um escárnio ocultado por quinze
gerações de vindouros
com seus cães que se deitam aos pés das pessoas e parecem adivi-


nhar a linguagem monstruosa
das narinas resfolegando

se a maldição for tanta e tão perfídia
que eu te esqueça na morte, que eu te esqueça
                                              (A musa irregular, Fernando Assis Pacheco)