Estava recostada com o livro
aberto pousado nas mãos apreciando da janela a brisa suave, a dança das folhas,
as árvores com vários tons de amarelos. Chamaste-me, pousei o livro no cadeirão
e fomos passear na praia antes do almoço; o mar estava indomável, magnânimo, a
cada passo os pés mergulhavam mais uma vez na areia. Comentei que o verão já
estava no fim enquanto casava os botões e reforçava o conforto da lã,
perguntei-te sobre o jantar e confirmaste as presenças. Nestes últimos dias
espelhavas uma tranquilidade típica dos anciãos, imperturbável pela sua
longevidade. Não sei onde vais buscar inabalável plenitude; por vezes
irritas-me tanto.
Pelas 18 começaram a chegar os
nossos amigos, ajudaste-me com os preparativos. O céu estava raiado de vermelho
enquanto se desenrolava a noite. O Outono teimava em apresentar-se, porém com o
grelhador e as cervejas no jardim o ambiente aqueceu. Tu regozijavas o peixe
que imponentemente ocupava toda a grelha e apreciavas os elogios, eu fui
mostrando o futuro quarto do Ismael. Quando estávamos no terraço a jantar eis
que a celebre pergunta é proferida “o nome do bebe”; grande comoção se levantou,
e, enquanto inúmeras justificações te foram apresentadas para me demover dessa
ideia, tu sorrias e os nossos olhares comunicaram. Como é que passados tantos
invernos ainda te amo como no primeiro? Exibes a tua expressão complacente
perante a minha inquietude e surpresa. No início da madrugada as estrelas ainda
brilhavam com nitidez e o sol começava a raiar, caminhámos até a praia,
sentamo-nos e enrolados em cobertores assistimos maravilhados ao espectáculo
celestial.
Lá tem de ser, comentei de sussurro,
um pequeno-almoço antes de dispersarem. Uma hora depois, finalmente sós
(suspirámos). Subimos as escadas para o nosso quarto. No final do mês seremos três.
Estou recostada com um livro
aberto pousado nas mãos. (d Pseudoink)