domingo, 26 de fevereiro de 2012

As palavras esperam o sono
e a música do sangue sobre as pedras corre
a primeira treva surge
o primeiro não a primeira quebra

A terra em teus braços é grande
o teu centro desenvolve-se como um ouvido
a noite cresce uma estrela vive
uma respiração na sombra o calor das árvores

Há um olhar que entra pelas paredes da terra
sem lâmpadas cresce esta luz de sombra
começo a entender o silêncio sem tempo
a torre extática que se alarga

A plenitude animal é o interior de uma boca
um grande orvalho puro como um olhar

Deslizo no teu dorso sou a mão do teu seio
sou o teu lábio e a coxa da tua coxa
sou nos teus dedos toda a redondez do meu corpo
sou a sombra que conhece a luz que a submerge

A luz que sobe entre
as gargantas agrestes
deste cair na treva
abre as vertentes onde
a água cai sem tempo
(Matéria de Amor, António Ramos Rosa)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Só para (tentar) ser diferente


A economia ilude um crescimento milimétrico, a carteira fica mais leve e os corações momentaniamente satisfeitos

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Aniversário !!

Bom dia, este tão intimista blog fez a semana passada 1 ano, um ano cheio de sobressaltos, tendo esta página sido uma agradável surpresa. Antes de a construir pertencia ao estereótipo machista relacionado com a afinidade entre as mulheres e a tecnologia, porém suprimia uma veia emocional que vociferava para ser revelada. Tendo a humildade, o pudor e a leitura de exímios escritores reprimido qualquer tentativa de a expor, o anonimato foi preponderante na emancipação da facção emotiva em questão.
Nunca pensei que este espaço durasse mais de um mês, nem aspirei visitas ou seguidores além do meu irmão (com a ajuda preciosa da persuasão); devo a vocês a fluência desta catarse amadora com que aprendi a viver.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Ao ler Virginia Woolf “Os três guinéus”, uma grande escritora e filósofa, senti a necessidade emergente de transcrever tímidos vislumbres da sua sapiência, partilho um excerto de uma carta em resposta a uma reflexão de como prevenir a guerra:
(…)
Portanto, caro senhor, se deseja realmente que o ajudemos a evitar a guerra, a conclusão parece ser uma só; devemos ajudar a reconstruir a faculdade que, por imperfeita que possa ser, é a única alternativa à educação do lar. Devemos esperar que essa educação possa ser alterada a seu tempo. Esse guinéu deve ser dado, antes de lhe darmos o guinéu que pede para o seu próprio partido. No entanto, trata-se de um contributo para a mesma causa – a prevenção da guerra. Os guinéus são coisa rara; os guinéus são valiosos, mas enviemos um sem impor qualquer condição à tesouraria do fundo de reconstrução, porque ao fazê-lo estamos a contribuir positivamente para evitar a guerra.
                                                                                                                                              (Os três guinéus, Virginia Woolf)