quinta-feira, 29 de março de 2012

Carpe Diem Alentejano


    Há uns dias atrás decidi visitar o Alentejo, mais especificamente Porto Covo. Já conhecia esta região como turista, porém há muito formigava o interesse antropológico.
    Estava um dia lindo em Lisboa, previa-se primavera em todo o país. A disposição para absorver a sabedoria alentejana e a comtemplar a sua beleza paisagística não podia ser melhor.
    Em cima do momento, no início da tarde, já pronta para sair, telefono a um amigo a inqueri-lo do meu intento, um café fica confirmado. De uma pessoa numa mesa com dois lugares, passou a um aglomerado e até ao final da noite mais se juntaram, de um café estendeu-se a lanche e prolongou-se pela noite com jantar incluído. As pessoas juntavam-se, cumprimentavam com as devidas apresentações e conversávamos como amigos de longa data que não se viam há uns bons aninhos. Com o sol a pôr-se na orla da praia e a folia cada vez mais animada, os ingredientes combinavam e emergiam numa receita soberba. À medida que a noite se afirmava fui experienciando arte de receber tão característica destes novos amigos, a honestidade e sinceridade sem tabus, os braços abertos sem agendas ou condições. É libertador e desarmante a sua disponibilidade.
    O tempo foi aproveitado ao segundo. Por estes lados cada dia é vivido como se fosse o último, sem lamentos, sem minutos perdidos a discutir por um lugar de estacionamento ou por o vizinho ter comprado o último bolo de arroz. O stress de um dia de trabalho é escoado no convívio numa praia, debaixo de uma oliveira ou numa eira com petiscos e muito riso à mistura. Um estilo de vida que não carece velocidade no lazer e a inteligência emocional é a chave para viver com plenitude. Uma experiência a revisitar.

segunda-feira, 19 de março de 2012

O Amor?

   
    Como rabiscar sobre algo que os grandes poetas, filósofos e escritores já dissertaram. Como escrever sem parecer ridícula ou displicente sobre um sentimento vivido de forma tão distinta como uma impressão digital, sem julgamentos ou certezas, sem o diminuir ou sobrevalorizar? Só reflectindo o que vi e interpretei, as pequenas pérolas que no mundo actual me fazem acreditar e proteger este sentimento que “arde sem se ver”, que nos enlouquece ou torna os loucos sãos, os mais corajosos em cobardes e os cobardes heróis, que é vadio e selvagem. Não tem regras nem as quer respeitar.
    Amor, para mim, é quando vejo o meu avô aos 80 anos a aprender a cozinhar para ajudar a minha avó, ou quando são apanhados a beijarem-se às escondidas. Também está presente na ternura com que ele aquece o lado da cama da minha avó nos dias frios.
    É quando dois jovens amam-se tanto que têm de se separar porque também se ferem com a mesma intensidade, tornando-se altruístas.
    Observa-se a viva chama deste sentimento quando após 70 ou mais anos de casados, uma senhora idosa enfraquecida, apoiada numa bengala, e, embora demore uma hora de casa para o hospital, vai todos os dias dar um beijo envergonhado na boca do marido, ajudar no almoço, lanche e jantar, e nos intervalos ficam de mão dada. Ele só a reconhece por períodos e ela, enquanto o marido dorme, conta histórias dos dois quando eram jovens com um brilho no olhar e uma saudade dolorosa. Depois do jantar vai para casa sozinha com a sua bengala, de volta ao casulo de recordações.
    O amor está nas pequenas acções, pequenos gestos que compensam a luta do dia-a-dia, no mundo que parece ruir a nossa volta, porém a casa mantém-se de pé. É quando um pai ao ver a mãe derreada de um dia de trabalho, pede, em segredo, aos filhos para comprarem o gelado preferido da esposa. Os filhos ficaram com o crédito e o pai comtemplou a felicidade com que a mãe o saboreou. 
    Na minha modesta e empírica opinião o amor não torna o mundo perfeito, apenas o torna tolerável, vivível.

segunda-feira, 5 de março de 2012

O meu Portugal

  O meu Portugal pode ser um país cheio de contradições contudo é consistente no que acredita. Um povo que ainda se sente injustiçado por ter descoberto mundo e meio e ocupar uma ínfima parcela do mesmo. Com a ilusão de um espírito esmagado pela sombra de uma Espanha. Além destas pequenas megalomanias é acolhedor, ainda acredita na família, com valores sociais muito presentes, mas um civismo muito imaturo. Capaz de mover mundo e fundos pelos seus, contudo se provier algum lucro, o bolso fica mais feliz.
  É um país com uma auto-estima baixa, contudo quando se empenha consegue superar espectativas elevadas, com focos de uma liderança criativa e conhecimento afinado que vão surgindo de tempos a tempos, porém esmagados por mesquinhez e tacanhez das esferas constituídas por uma dúzia de senhores senis com tanto poder.
  Não somos exímios seguidores de protocolos, contudo ganhamos pontos na improvisação. Somos um povo que consegue sorrir enquanto chora. Muito emotivo e sonhador, ainda acreditando num mundo melhor. Mas, espezinhado e violentado com os constantes abusos de poder e corrupção dos seus semelhantes. Sem vestígios de uma justiça digna e eficiente.
  Tanto potencial neste canto da Europa sendo explorado por países estrangeiros, enquanto nos comiseramos. As desculpas atropelam-se e, quando olhamos para o passado tropeçamos no presente e futuro. A saudade, palavra sem tradução, muito nossa, continua a justificar a mediocridade.
  Enquanto esperamos por D. Sebastião e a justiça aniquilada se eleve, Portugal é, apenas, uma paradisíaca paisagem para umas férias de verão, com grande pesar meu.
  Desculpem se ofendi alguém, esta é a opinião de uma portuguesa que chora pelo seu país.
(d Trintona)