Uns dias atrás deparei com uma omissão imperdoável,
passou despercebido o dia da poesia neste blog. Como pude cometer tamanha
vileza? Em minha defesa, todos os dias são dias da palavra. Filha de pais de
ideologia romântica cresci com a poesia. Foram incalculáveis os ensejos que a
agulha do gira-discos circulou no vinil de Eunice Munoz citando Florbela
Espanca. Ainda consigo com relativa precisão distinguir as velhas falhas que a
agulha teima em vincar e os recentes estragos pela continuidade do uso. As
palavras melancólicas prolongavam-se, sentidas, sofridas pela voz que só muitos
anos depois associei a um rosto.
Foi sagrada a hora em que João Villaret e Mário
Viegas, durante anos, exerceram com magnificência a singela tarefa de
incorporar e partilhar esta forma de arte. Podia bater o pé para não jantar,
porém quando estes dois senhores figuravam no ecrã televiso, os 4 pares de os
olhos fixavam o ecrã e o silêncio era mandatário.
Mais tarde, Natália Luisa, Carmen Dolores e Luis
Miguel Sintra frequentaram a minha sala amiúde com o Acontece. Foram estes
grandes senhores que me ensinaram a gostar e a ler poesia. A minha gratidão e
vénia aos poetas e aos porta-vozes que difundem esta forma de escrita com igual
singularidade e dignidade.
(d Pseudoink)
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