Poderá andar-se metido num
amor a contragosto?
Claro que sim.
Um amor a contragosto é um
amor em relação ao qual o sujeito que o sofre palpita que está numa perspectiva
catastrófica e que, em princípio, nada poderá fazer para evitar a catástrofe,
que esta o espera no fim de tudo e se prepara para o mastigar sem
contemplações, reduzindo-o a cisco.
“Reconquista-me!”, diz o
objecto desse amor a contragosto, entremostrando-se e furtando-se logo de
seguida. E o sofrente do amor a contragosto compraz-se (afinal com imenso
gosto!) em esfalfar-se e em arruinar-se nessa descida aos inferninhos do amor
infeliz.
(Uma coisa em forma de assim,
Alexandre O´Neill)
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