quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Cumplicidade

Estavam a tomar o pequeno-almoço na cozinha, num domingo solarengo porém fresco. Descontraídos. A sua face e cabelo cintilavam sob a graça dos raios solares, através da janela na porta. O labrador Toninhas de pêlo castanho clarinho dormitava na área do chão iluminada.
Parecia ser um domingo como os anteriores. Estavam frente a frente. Teresa, com a torrada trincada na mão, olhar ausente, expressão taciturna, deixa escapar “estou cansada”, disse-o baixinho contudo firme, acompanhado de um suspiro denso, comportando meio mundo. João levantou o olhar na sua direcção, sabia como tinha sido difícil aquele desabafo, percebia o que significava e a intensidade das palavras proferidas, a angústia que ela sentia vibrava.
Depois de as ter pronunciado, Teresa fixou os olhos na torrada trincada, sentia a preocupação do João. Vivem juntos há dois anos, contudo a cumplicidade e empatia pareciam intemporais. Após terminada a refeição, levantaram-se da mesa em silêncio, ele com um sorriso nos lábios, calmo, sereno; ela cabisbaixa, um pouco ansiosa, culpada. Vestiram-se com o intuito de passear o Toninhas. Antes de abrir a porta, sem qualquer aviso, fixou os seus olhos nos de Teresa e beijou-a com tanta intensidade que braços de dela ergueram-se e envolveram-no. Estiveram assim uns minutos. Quando o João abriu a porta para o mundo  Teresa sorria, a tempestade tinha amanado. 
(d Trintona)

3 comentários:

El Patronito o Ardina disse...

Eheheheheh tá giro. Vês como consegues.

MissLilly disse...

Um bonito texto, parabens

pseudoink disse...

Muito obrigada :)