quarta-feira, 23 de março de 2011

Quase calamidade narcisista

Estava calmamente, com um entusiasmo de difícil contenção, a comprar bilhetes para um espectáculo este sábado, quando inusitadamente, como combustão espontânea surgem 4 ou 6 janelas no ecrã do ditoso portátil a anunciar “vírus trojan”. Instalou-se o pânico. Procuro nervosa a telemóvel que, após encontrado, escorrega por entre os dedos (penso ser aplicável o ditado “quanto mais depressa mais devagar”)… Com telemóvel finalmente em posição para salvamento telefono ao amigo certo, para grande sorte minha. É de vital importância esclarecer o caro ou caros leitores que a sorte raramente tropeça no meu caminho. Mas, voltando ao drama em questão, quando digito o número do Albino, em quem deposito todas as minhas esperanças, surge no ecrã do portátil “crush down”, num segundo tudo se apaga. Neste curto espaço de tempo, tento acalmar minha fúria misto estupefacção. O Albino atende o telefone e corre em meu salvamento. Não surgiu com a indumentária de super-homem ou óculinhos à nerd, contudo foi um herói. Tudo se resolve faz-se isto e aquilo… não percebi peva, porém as palavras mágicas foram ouvidas: resolve-se, arranja-se.
Ufa…
Passada uma hora, faz-se luz: com sorte 50% do disco poderá ser recuperado. Quê? E os meus escassos leitores, os meus documentos, filmes e músicas coleccionadas ao longo de uma vida? (Desculpem não ter devotado toda a minha atenção em vós).
Ao longo da minha estadia neste planeta como individuo foi realçada a minha audição selectiva. Este fenómeno tem as suas vantagens, contudo, nestas situações, é tramado: primeiro o alívio; passado umas horas ou dias, ao me consciencializar de errónea informação absorvida e analisada, a desilusão e apreensão são sentidas. Apesar dos inconvenientes, esta selectividade aliada a uma preguiça saudável podem ser benéficas, por vezes os problemas solucionam-se; o modo auto-gestão é possível (embora menos vezes do que gostaria, ou seja raramente).
To be continued…
(d Trintona)

segunda-feira, 14 de março de 2011

reflexões de quem não tem sono e nada produtivo em vista...

A expressão "orgulhosamente só" é frequentemente dita com uma planeada ou espontânea entoação. A resposta é também balbuciada, contida, silenciosa ou pode ser entusiasta, contudo raramente é uma interlocução indiferente ou imparcial. Por vezes o “orgulhosamente só” não tem de ser um sinal de frustração, desistência, fraqueza ou de luta, força, coragem; é simplesmente orgulhosamente só. Nem tudo tem de ser justificado, categorizado. Um gajo bêbado pode ser apenas um gajo bêbado.
(d Trintona)

domingo, 6 de março de 2011


Tenho ódio à luz e raiva à claridade
Do sol, alegre, quente, na subida.
Parece que a minh’alma é perseguida
Por um carrasco cheio de maldade!

Ó minha vã, inútil mocidade,
Trazes-me embriagada, entontecida!...
Duns beijos que me deste noutra vida,
Trago em meus lábios roxos, a saudade!...

Eu não gosto do sol, eu tenho medo
Que me leiam nos olhos o segredo
De não amar ninguém, de ser assim!

Gosto da Noite imensa, triste, preta,
Como esta estranha e doida borboleta
Que eu sinto sempre a voltejar em mim!...
                                (A minha tragádia,  Al Berto)

sexta-feira, 4 de março de 2011

Uma matriz de cinzentos


No Tibete a meditação, paz e comunhão/simbiose com a natureza ditam o quotidiano tibetano. Estes princípios não são linhas orientadoras, são cumpridas religiosamente e transmitidas de geração para geração. Sem hipocrisias, sem diversos tons de cinzento. Contudo fora do Tibete os cânones são outros, a matriz é dispersa, onde as leis são aprovadas para serem obedecidas por uns e corrompidas por outros. Ainda é mais verdade quando se fala da China. O Tibete harmonioso e perseverante está cada vez menos isolado de um mundo sombrio, onde a ganância e a luta pelo poder impera perante uns “gatos-pingados” que lutam de forma pacífica e legítima pelos direitos deste povo cujo crime cometido foi ser ingénuo, íntegro e desprendido das leis materiais. O resultado é morte, destruição, cepticismo.
Quando somos jovens tendemos a ser incisivos, onde existe mal e bem, certo e errado, lutamos pelo que acreditamos, posições claras são expressas e bem definidas. Quanto ao adulto calejado, realista, pouco crente na raça humana é outra história. Existem diversas tonalidades de cinzento, sendo a expressão “não é tudo preto ou branco ” reiterada.
Creio que a China não chegaria tão longe com tanta agilidade sem colaboração. O mundo ocidental que critica ferozmente esta depredação, noutra dimensão arquitecta juntamente com a China tal devastação. Claro, glória negada e feito simulado, pois não seriam aplaudidos, os que erguem o estandarte dos direitos humanos envolverem-se em tal flagelo. Por isso contentam-se com a partilha dos lucros.
Pobres tibetanos que desconheciam a ironia, a perfídia e o crime. Irá ser uma aprendizagem contínua, contudo, só num sentido, porque nós preferimos ignorar esta cultura fascinante. Talvez um dia percebamos que a sobrevivência do ser humano como espécie depende da prática desses valores tão nobres.
(d Trintona)

quarta-feira, 2 de março de 2011


«Por isso, numa relação de amor que, embora tenha começado, não pode realizar-se, a delicadeza é a coisa mais ofensiva que há, e aquele que tem visão erótica e não é cobarde facilmente vê que ser indelicado é o único meio que lhe resta para respeitar a honra da rapariga.»
(from Kierkegaard)