quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Sala

 

Estava recostada com o livro aberto pousado nas mãos apreciando da janela a brisa suave, a dança das folhas, as árvores com vários tons de amarelos. Chamaste-me, pousei o livro no cadeirão e fomos passear na praia antes do almoço; o mar estava indomável, magnânimo, a cada passo os pés mergulhavam mais uma vez na areia. Comentei que o verão já estava no fim enquanto casava os botões e reforçava o conforto da lã, perguntei-te sobre o jantar e confirmaste as presenças. Nestes últimos dias espelhavas uma tranquilidade típica dos anciãos, imperturbável pela sua longevidade. Não sei onde vais buscar inabalável plenitude; por vezes irritas-me tanto. 
Pelas 18 começaram a chegar os nossos amigos, ajudaste-me com os preparativos. O céu estava raiado de vermelho enquanto se desenrolava a noite. O Outono teimava em apresentar-se, porém com o grelhador e as cervejas no jardim o ambiente aqueceu. Tu regozijavas o peixe que imponentemente ocupava toda a grelha e apreciavas os elogios, eu fui mostrando o futuro quarto do Ismael. Quando estávamos no terraço a jantar eis que a celebre pergunta é proferida “o nome do bebe”; grande comoção se levantou, e, enquanto inúmeras justificações te foram apresentadas para me demover dessa ideia, tu sorrias e os nossos olhares comunicaram. Como é que passados tantos invernos ainda te amo como no primeiro? Exibes a tua expressão complacente perante a minha inquietude e surpresa. No início da madrugada as estrelas ainda brilhavam com nitidez e o sol começava a raiar, caminhámos até a praia, sentamo-nos e enrolados em cobertores assistimos maravilhados ao espectáculo celestial.
Lá tem de ser, comentei de sussurro, um pequeno-almoço antes de dispersarem. Uma hora depois, finalmente sós (suspirámos). Subimos as escadas para o nosso quarto. No final do mês seremos três.
Estou recostada com um livro aberto pousado nas mãos.  (d Pseudoink)